segunda-feira, 20 de abril de 2015

A enigmática invasão da pleura visceral no estadiamento do câncer de pulmão



Definir é limitar 
Oscar Wilde, escritor inglês 
 
Por vezes quando se aborda o tórax para retirar um nódulo, seja a céu aberto ou por vídeo, depara-se com sinais macroscópicos de invasão da pleura visceral. Retira-se a lesão, porém passa-se a conviver com o silêncio do estadiamento patológico.
Sabe-se que a invasão da pleura visceral (IPV), no câncer de pulmão células não pequenas (CPCNP), aparenta está intimamente ligada ao tamanho do tumor, conforme diversos autores grifam. As variantes tamanho do tumor (TT) e IPV, na verdade, podem ser elementos de grandezas independentes e podem estar escapando ao olhar cotidiano, conforme propõe a recente meta-análise do chinês He Huang e cols denominado Visceral Pleural Invasion Remains a Size-Independent Prognostic Factor in Stage I Non-Small Cell Lung Cancer do hospital Sichuan Cancer Hospital, Chengdu, um dos mais respeitados da República da China (Ann Thorac Surg 2015;99:1130–9).
Trata-se de um estudo clínico multicêntrico que procura retratar, isoladamente, a relação entre a IPV e o prognóstico do câncer de pulmão em casos precoces. Portanto os autores desprezam outras variantes e levam em consideração apenas lesões menores que 3cm (Estadio I).
De um modo geral sabemos que, para os CPCNP na fase precoce (< 3cm), basta o tratamento cirúrgico, que nos últimos anos aliou-se à ressecção por video. Outrossim, não há necessidade de quimioterapia, exceto se não analisarmos a IPV.
Tal invasão está claramente definida como fator de piora do prognóstico, conforme descrição do TNM, 7ª edição. Isso significa enfatizar que amplia a classificação do estadiamento de T1 para T2, especialmente na casa dos 2cm. Estas lesões, teoricamente não deveriam passar a ser T2a se nos prendêssemos única e exclusivamente no fator tamanho, mas se houver IPV a prosa muda de rumo. Este ponto nevrálgico, ainda que esteja em palco de discussões, gera impacto adverso em sobrevida e recorrência. O fato é que se existe IPV, então passa a se considerar a possibilidade de QT adjuvante.
O resultado da meta-análise de He Huang demonstrou que a invasão de pleura visceral está intimamente relacionada com risco aumentado de morte e recidiva da doença. Isto, por si, representa impacto no intervalo de sobrevida (IS). Houve um subgrupo, na meta-análise, que demonstrou que tal impacto independeu do TT, mas sobretudo da IPV. Ao analisarem todos os pacientes do estudo e os pacientes dos subgrupos de TT menores de 3cm percebe-se que os resultados são consistentes e significantes.
Os autores tentam fazer uma classificação baseada única e exclusivamente nestes elementos, mas reconhecem que os dados retrospectivos são insuficientes, demonstrando uma limitação do trabalho.
O fato é que a análise de subgrupo com IPV foi consistente ao estar associado com aumento do risco de morte. Isto confirma que o efeito de IPV em sobreviventes foi independente de tamanho de tumor. Também procuraram executar outras análises de subgrupos pela histologia e grau de diferenciação de tumor, porém, não havia dados suficientes. Há de citar-se, porém, um achado curioso: o resultado mostrou que o efeito de IPV não foi influenciado pelo tipo histológico. 
A meta-análise esclarece outras limitações mais consistentes, como: baixo nível de evidência dos estudos retrospectivos (em muitos deles incluindo o TT), QT adjuvante, método de coloração da peça e se houve ressecção completa da lesão.
Concluíram, portanto, que a IPV representa um prognóstico adverso no estágio Inicial e este prognóstico tem impacto clínico, independente do TT. Sugerem os autores o uso QT adjuvante agressiva.