sexta-feira, 16 de novembro de 2012

"Vende-se Mudas"



“Vende-se Mudas”, grafava o anúncio num papelão, em letras toscas, aparentemente distante da concordância verbal. Afixada na beira da estrada de Mazagão, a placa chamou atenção de dois estrangeiros obstinados pelo tráfico de mulheres, que passavam chispados num Dodge. Freou e recuou. Prepararam uma chegança dissimulada, olhando para todos os lados, mas com tufos de Euros na capanga comprada na praça de Cayena, rota de despacho. Adentraram no terreno ao cair da noite, mas não encontraram qualquer indício de comercio de mudas dispostas a se prostituírem, exceto uma surda que, essa sim, em linguagem de sinal, apontou para o norte, Laranjal do Jari, de onde viera, mas que guardava para si. Um dos traficantes respondeu-lhe na mesma linguagem de sinais.
- De lá já vim e não “garimpei” nada.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Mapinguari



Um Mapinguari desacreditado de sua existência vestiu-se de Onça-Pintada e saiu pela mata do Utinga. Encontrou um homem e leu para ele três fábulas: da Matinta-Perera, da Cobra-Grande e a do Boto. Esse homem cruzou com outro-homem e releu as fábulas. O outro-homem desferiu-lhe três dentadas. Mais tarde a Onça reencontrou o homem ferido, agonizando. Lambeu-lhe o sangue, raspou os ossos, mastigou os músculos e cuspiu a alma. Enterrou o que ficou com três pazadas de terra. Até hoje o Mapinguari se alimenta de fábulas.